0.1 / Comunidade de Chegada
0.1.1 / Intenções projectuais
Numa continuação dos propósitos enunciados no Poster, optou-se pela exploração do carácter político e social no design, com especial enfoque para uma investigação da organização social e dos processos que dela fazem parte, no sentido de confrontar relações de poder e controlo, repensando e redefinindo os valores e as regras com base nos quais sobrevive e se alimenta o modelo social e político actual.
Como ponto de partida, optei pelo estudo do Panóptico enquanto modelo social, estabelecendo o paralelismo com uma comunidade de peixes Tetra a viver em cativeiro. Tal opção deve-se às analogias possíveis e quase inesgotáveis entre os indivíduos das duas comunidades - animal e humana, sobretudo as alterações comportamentais desencadeadas pela vida em cativeiro, as leis biológicas da comunidade animal em correspondência com as leis regulamentares do Panóptico, bem como o modelo de organização.
Pretendo envolver algumas das comunidades em desenvolvimento neste projecto, entre as quais a comunidade de Caravelas-Portuguesas da Teresa Freitas e a comunidade de Efémeras da Júlia Andrade, recebendo- as no aquário de peixes Tetra, e explorando desta forma as interacções entre espécies e comunidades diferentes.
As comunidades envolvidas poderão ou não ser compatíveis (de acordo com as regras da biologia como a predação e a competição) dando origem a um ecossistema sustentável ou anulando- se mutuamente. Neste sentido, o Panóptico Interespecífico apresenta-se como hospedeiro, já que recebe outras comunidades, as quais poderão, em limite, destruí-lo. Contudo, de forma a conseguir hospedar outras comunidades necessita- se em troca, de toda a informação sobre as mesmas.
Tais considerações ou objectivos conceptuais visam dar origem a um sistema generativo em que se explora a interacção e as dinâmicas entre várias comunidades num ambiente de vigilância que é sobretudo uma área de experimentação./h9>
0.2 / Objectivos
1. Compreender e explorar a dimensão simbólica do Panóptico, não só como modelo prisional mas sobretudo como modelo social, já que a sua arquitectura bem como os seus pressupostos acabaram por ser utilizados em diversas instituições públicas e privadas tais como escolas, hospitais e fábricas.
2. Conseguir reportar o carácter laboratorial deste sistema arquitectónico (um local exclusivo de estudo onde é possível, de forma legal e socialmente aceite, testar e observar o comportamento humano à semelhança de qualquer cobaia de laboratório) ao projecto do Panóptico Interespecífico.
3. Conseguir transpor a organização espacial demarcadamente hierarquizada do Panóptico para o espaço virtual.
Fig. 2 Diagrama de Venn
4. Compreender as relações e os comportamentos biológicos de cada comunidade a integrar o Panóptico, e formular, com base nas mesmas, regras executáveis em programação.
5. Fomentar a interacção entre comunidades, no sentido de estabelecer relações mutualistas, em que ambas as partes saem a ganhar.
6. Criar, em Processing, um sistema generativo que simule a interacção entre algumas das restantes comunidades em desenvolvimento, num ambiente laboratorial de teste e observação - o Panóptico Interespecífico, por outras palavras, pretende-se tornar visível a relação e as trocas entre as comunidades.
0.3 / Desenvolvimento Projectual
0.3.1 / Fase 1.1 - Desenvolvimento do Habitat
Componente Teórica
Desenvolvimento teórico do Panóptico Interespecífico tendo como fundamento a obra Vigiar e Punir, de Michel Foucault, e a palestra de Kittler, Code – or How to Write Something in a Different Way, de 2003.
1. Estudo e síntese das leis do Panóptico, utilizando como bibliografia basilar as referências indicadas anteriormente;
2. Estudo e síntese das ‘leis da biologia’, como a competição, a predação, a simbiose, e o comensalismo;
3. Elaboração de um diagrama de Venn em que o primeiro conjunto é relativo às Leis dos Homens (leis do Panóptico), reservando-se o segundo conjunto às leis dos peixes (leis biológicas dos peixes). A intercepção dos dois conjuntos ou zona comum deverá resultar nas Leis do Panóptico Interespecífico;
4. À semelhança de qualquer código de legislação, estas leis devem ser codificadas ou generalizadas, de forma a resultarem num nível mais formal de informação (que não seja apenas relativo a Homens e a peixes), que possa ser reportado ao código da programação.
Componente Prática
Desenvolvimento, em Processing, de um espaço circular de experimentação onde seja possível introduzir as leis definidas anteriormente, na componente teórica. Neste espaço virtual deverá também ser possível introduzir elementos, ou indivíduos de diferentes espécies e comunidades.
0.3.2 / Fase 1.2 - Desenvolvimento das Comunidades
Componente Teórica
Investigação sobre as predisposições inerentes a cada comunidade integrante do Panóptico, incluem-se aqui as regras biológicas específicas de cada comunidade, bem como as predisposições genéticas, as quais deverão ser determinantes nas características físicas e comportamentais do indivíduo / elemento do sistema.
As informações sobre os comportamentos e as regras de cada comunidade devem ser possibilitadas pelas próprias, à excepção do Peixe-Tetra, que aparece como uma comunidade pré-definida do Panóptico.
Componente Prática
Criação, em Processing, das comunidades parasitas, segundo as regras biológicas específicas de cada uma, bem como as predisposições genéticas, as quais dão origem a factores de ordem ecológica ou comportamental (como o tipo de alimentação) e física (por exemplo, o tamanho médio do indivíduo).
0.3.3 / Fase 2 - O sistema vivo
Componente teórica
Desenvolvimento teórico no sentido de acurar a componente conceptual que serve de base ao projecto, suprimindo ou acrescentando informação.
Componente prática
Desenvolvimento, em Processing, de um sistema generativo a partir dos ‘exercícios’ das fases 1.1 e 1.2 - criação do Habitat e das comunidades parasitas, introduzindo as comunidades no habitat. Esta fase serve ainda à construção do interface e à conclusão da programação do sistema, com todos os ajustes próprios desta fase final.